quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Ah! O Verão em Rio Grande!

Ah! Como Rio Grande é linda no verão! As tardes ensolaradas, a leve brisa – que por vezes vem do mar, por vezes da Laguna – que conforta e refresca, as ruas antigas do centro bordadas com flores e arbustos, o Canalete florido exalando um cheiro de... cocô de cachorro!

Sim, riograndinos! Cocô de cachorro estraga as minhas caminhadas vespertinas e me faz ficar cada vez mais decepcionado com os donos de cachorro dos arredores do Canalete. É impressionante a quantidade de pessoas que saem com seus canídeos a passear, deixa-os fazer cocô em via pública e não recolhe os dejetos. É como se fosse obrigação de todos suportar os excrementos de seus animais. E fazem isto sem o menor constrangimento.

Outro dia, caminhava pelo Canalete – como faço todos os dias – e vi um senhor caminhando com seu labrador preto (dono e cachorro um pouco acima do peso, mais ou menos como eu). Passei por eles no exato instante em que o cachorro terminava sua “obra”, bem na frente da 1ª Igreja Batista. Perguntei “O senhor não vai recolher o cocô de seu cachorro?”, ao que ele respondeu “Depois eu passo aqui e pego!” – aham! Claro! Como se eu fosse idiota ao ponto de acreditar! – Fiz uma cara de decepção e disse que ele devia ter vergonha de fazer isto com uma cidade tão bonita.

Dei-me ao trabalho de escrever estes breves parágrafos porque observo que as pessoas que fazem isto não são gente sem cultura. São pessoas bem vestidas, usando tênis caros e limpos, com animais bem tratados e tosados em petshops, gente das redondezas do próprio Canalete, sabidamente uma das mais caras da cidade. É inaceitável que qualquer pessoa, de qualquer condição social-econômica faça isto, mas ver as pessoas sujando o próprio lugar onde moram é feio demais.

Neste final de semana, mudo de Rio Grande para minha cidade natal - e com grande pesar. Realmente, esta cidade maravilhosa deixou marcas em minha história e me sinto meio catarinense e meio riograndino, já que fui tão bem recebido pelas pessoas desta cidade. Aqui, deixo uma empresa de sucesso, que exporta talentos para outras regiões do estado e do país e gostaria de deixar uma outra marca: que esta breve missiva trouxesse um pouco de consciência aos donos de cachorros. Não custa nada sair de casa com uma ou duas sacolinhas de plástico para recolher os excrementos de seus animais de estimação para, logo em seguida, depositar em uma das inúmeras lixeiras à disposição da comunidade. É mera questão de capricho, respeito pelos outros transeuntes e demonstração de civilidade.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Redes sociais, paternidade e os erros que queremos que nossos filhos evitem

Todo mundo que me conhece ou me segue em alguma dessas redes sociais da vida sabe que estou para ser pai pela segunda vez e, desta vez, de um menino – ao que tudo indica.

Quem me segue, sabe também que procuro fazer bom uso das mesmas redes sociais: aumentar minha rede de contatos, fazer negócios, trabalho social, reestabelecer contato com velhos amigos a quem há muito não vejo... e a lista segue. Claro que também as uso para lazer, mas esta definitivamente não é a prioridade.

Como sou bom observador, reparo em alguns comportamentos em redes sociais que falam muito sobre as vidas das pessoas, o modo como elas se encaram a si mesmas, suas relações sociais, afetivas, profissionais... e fico meio pensativo quando vejo certos comportamentos.

Vamos lá:

Pessoas que escrevem errado (e não falo de “internetiquês”, não; errado mesmo) é gente que escreve “concerteza” ao invés de “com certeza”, “seje” ao invés de “seja” – e a lista vai longe. Onde é que estas pessoas pretendem chegar se não sabem nem ao menos a sua língua-mãe, pelo menos o suficiente para não fazerem vexame.

Fotos de casais, quando o perfil naquela rede social pertence só a um(a). Normalmente, nestes casos, o(a) parceiro(a) concorda em aparecer na foto para “demarcar território” ou para ser tratado(a) como “território demarcado”. Isto como se vivêssemos em uma manada em que uma pessoa que tem compromisso de algum tipo com outra – ou, melhor ainda, uma relação de amor e confiança – não soubesse que, independente de ter uma foto com outra pessoa em seu perfil social, é mais interessante que tenha atitudes que condigam com tal situação. Aí, é claro, indagar-me-ão os casais que se amam e que resolveram ter um perfil juntos e o fazem de maneira saudável, sem estresse ou fiscalização. Mas estes são casos raros e há uma grande chance de que quem tem um perfil deste tipo se encaixe mais na primeira do que na segunda descrição.

Gente que fala mal de patrão/família/amigos. Falar mal de quem nos faz mal é, por vezes, terapêutico. Especialmente quando falamos diretamente com a(s) pessoa(s) objeto de nossa revolta. Para quem ainda não tentou uma sessão de transparência, objetividade e posicionamento, eu recomendo – com estrelinhas douradas no canto da receita! Não adianta vir para a internet xingar pai, mãe, namorado, cachorro, a vida, a conjuntura, Deus, o diabo e a tia da cantina. O que resolve é falar diretamente com estas pessoas, tomar atitudes, ser transparente. Na minha humilde opinião, ficar enchendo lingüiça na internet e não tomar atitudes, além de me transmitir uma imagem de covardia digna dos seres mais infelizes da história da humanidade, nunca trouxe nem nunca trará resultados positivos.

A cada semana, uma nova paixão. Fico observando que muitos daqueles casais que colocam fotinhos juntos, em algum tempo não estão mais juntos. Logo em seguida, começo a reparar nas comunidades em que ambos começam a entrar – como forma de dar indiretas ou de declarar para o mundo a nova condição – e as fotos que começam a postar. Invariavelmente, coisas como “Agora eu tô solteiro(a) e ninguém vai me segurar” ou “Bobeou, a fila andou” e coisas do gênero começam a pipocar, em atitudes claras de quem assume que foi imbecil por algum tempo ou começou a sê-lo agora – ou já era e a coisa se agravou. Será que é tão comum assim cuspir-se no prato em que se comeu por algum tempo? Será que não se aprende nada quando se sai de uma relação, que não se leva alguma bagagem? Tudo o que sobra é rancor?

O caso se agrava quando a gente repara que os casais vão e vêm, vão e vêm , tal como... ioiô. Ou, pior ainda, quando aparecem com um novo “amor” a cada 15 dias – ou menos. Será que o amor está tão banalizado assim? Será que aquele tempo todo que eu passei achando que não amava ninguém era só uma ilusão minha?

Na minha opinião, o que falta a esta criançada é um pouco mais de desejo de ser eles/elas mesmos(as), sem precisarem ser apêndices, pedaços, extensões de outras pessoas – por mais que as amem ou achem que amam.

Eu sou o Otávio. Eu sou feliz comigo mesmo. Minha esposa é a Carol. Ela é feliz consigo mesma. Somos pessoas adultas e bem resolvidas que escolheram caminhar juntas, partilhando das diferenças e explorando as maravilhas deste universo desconhecido que um é para o outro. Seria a coisa mais sem graça do mundo ter uma pessoa que concorda com tudo o que eu digo, que eu penso, que vive a minha ao invés da sua própria. Eu não teria o que explorar.

Lembro que uma coisa que me chamou a atenção na minha esposa foi que, quando namorávamos, eu a apresentei uma vez “Oi! Esta é a minha namorada, a Carol!” para alguns amigos. Ela imediatamente me chamou de canto e falou “Da próxima vez, diz que eu sou a Carol e deixa que o fato de eu ser tua namorada seja uma dedução deles. O fato de eu te namorar não é mais importante do que meu nome e quem eu sou.” Bastou! Me ganhou ali mesmo.

Noto que as medidas que muitas pessoas tomam para manterem seus relacionamentos andando são as mesmas responsáveis pelo seu fim. Triste isso.

Agora que sou pai, torço que a Sofia e o irmão (que ora está para nascer) aprendam isso da gente.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Comentário sobre o posicionamento político de um pastor de Curitiba II



A postagem abaixo foi copiada descaradamente do "Pavablog". Trata-se de uma resposta a uma postagem com a mesma temática da minha última.

A sobriedade de seu autor me faz pedir licensa para dedicar-lhe um tópico exclusivo neste espaço.

Segue:


Tenho acompanhado, com profunda tristeza, os acontecimentos relativos a este vídeo nas últimas semanas, tenho meus motivos.

Sou professor e ativista social, evangélico desde minha adolescência.

Faz mais de 10 anos que tenho lutado contra a iniquidade nesta terra, já fui ameaçado, injustiçado, xingado, humilhado, já chorei, me entristeci, briguei, levantei, vi misérias sociais e corrupções, explorações e assassinatos.
E nunca, nunca, nunca mesmo, vi uma mobilização se quer por parte da instituição igreja na busca por justiça, inclusive várias situações a cima as quais presenciei, foram promovidas por “evangélicos”.

Agora, milhões de evangélicos se levantam contra o PT, como se extirpar este partido da face da terra o próprio demônio estivesse vencido. Mas e os outros partidos, santificaram-se por não terem sido citados na fala do Pr. Paschoal?
Profundas e absurdas iniquidades neste país são realizadas por pessoas de todos os partidos e por todos os partidos, inclusive pelo PT, e não exclusivamente.
Não considerar esta questão óbvia em época de eleições é infantilismo moral.

Uma grande massa de evangélicos, agora enraivecidos e em guerra, não estão contra a iniquidade, mas de forma politiqueira, contra um partido apenas.

Não contra a iniquidade institucionalizada, pois a esta há o silêncio.

A não participação fora de épocas eleitorais é prova disso, e continuará o silêncio após as eleições.

Eu apenas oro e lamento, pois os abortos de crianças nascidas, que acontecem há tempos em nosso país, fruto do descaso político e maldades institucionalizadas, recebem também há tempos o silêncio vindo de Mamom, de dentro de nossas igrejas institucionalizadas.

Eu digo com a coragem de quem não tem nada da instituição igreja a perder, e com o risco de ser queimado na fogueira dos novos inquisidores que estão surgindo:

O Pr. Paschoal foi superficial demais em sua apresentação, colocou o termo iniquidade em uma caixinha bem pequena de um vídeo sensacionalista e infantilizante, não citou textos bíblicos para pautar sua retórica, imputou toda iniquidade do mundo a um partido apenas, quando sabemos que em todos eles há iniquidades, inclusive veladas, foi profundamente eleitoreiro e não contribuiu para que as pessoas pensem por si próprias.

E provavelmente os que acusam o PT de serem contra a liberdade, “democraticamente” me crucificarão pelo que estou afirmando.

O que a Bíblia define como iniquidade? Será que esta massa de evangélicos, que só agora se levantam contrários a ela, conhecem a profundidade deste tema bíblico ? Iniquidade Bíblica não cabe naquele vídeo, nem dentro do enorme e rico prédio da PIB Curitiba da qual um dia fiz parte.
Alguém poderia citar algum partido sem iniquidade institucionalizada? Agora os cristãos evangélicos poderão votar no DEMOCRATAS ou nos liberais do PSDB sem peso na consciência, mesmo que estes tenham vendido a nação e muitos daqueles, fisiologistas no poder, tenham ligação com os latifúndios de trabalho semelhante ao escravo. Mas estas iniquidades não fazem parte do nosso meio classe média “evangélica”. Não estamos preocupados com isto.

Não sou petista, não vou votar na Dilma, não defendo o partido dos trabalhadores.

Mas se é para falar de iniquidade, que se apresente ela toda, inclusive a concentração de riqueza, de terras, de poder… toda esta podridão histórica que cerca nossa terra e que frente a ela temos calado, nos institucionalizado.
O silêncio de nossas igrejas em questões de pecados sociais e o grito de milhares somente aos pecados relativos à moralidade, dará testemunho contra nós mesmos.

Para alguns, o pastor batista Martim Luther King nunca foi um homem de Deus por proclamar em alto e bom som seu engajamento social cristão e por não se calar frente a INIQUIDADE dos brancos (inclusive batistas) que matavam negros apenas por serem negros, nos EUA dos anos 60.
“Mas a atitude deste pastor não vai contra o sexo, o homossexualismo e nem contra o aborto, então ele não enfrenta a iniquidade”, diriam alguns.

Os pecados de Sodoma não foram apenas sexuais, mas sociais e de ganância, é só dar uma lida na Bíblia.

Se em uma família moradora da periferia de uma grande cidade brasileira, onde concentram-se vários problemas sociais enfrentados pelos trabalhadores e trabalhadoras deste país, nenhuma das questões apresentadas no vídeo ocorrer, se não houver nenhuma mulher enfrentando gravidez indesejada, em que pese a possibilidade de um aborto; se todos os homens ali forem heterossexuais, e se no Brasil não existir mais o PT… ENTÃO

NÃO HAVERIA INIQUIDADE INSTITUCIONALIZADA?

“Ouçam agora vocês, ricos! Chorem e lamentem-se, tendo em vista a miséria que lhes sobrevirá.

A riqueza de vocês apodreceu, e as traças corroeram as suas roupas.

O ouro e a prata de vocês enferrujaram, e a ferrugem deles testemunhará contra vocês e como fogo lhes devorará a carne. Vocês acumularam bens nestes últimos dias.

Vejam, o salário dos trabalhadores que ceifaram os seus campos, e que por vocês foi retido com fraude, está clamando contra vocês. O lamento dos ceifeiros chegou aos ouvidos do Senhor dos Exércitos.

Vocês viveram luxuosamente na terra, desfrutando prazeres, e fartaram-se de comida em dia de abate.

Vocês têm condenado e matado o justo, sem que ele ofereça resistência.”

Tiago Capítulo 5 Versículos de 1 a 6 (na sua Bíblia também tem)

Pano de saco e cinzas sobre nossas cabeças.

Douglas Rezende

Cristão

ativista social

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Comentário sobre o posicionamento político de um pastor de Curitiba

Rola na internet, via motivação cristã, um vídeo de um determinado pastor de Curitiba sobre "em quem não votar".

Não vou nem colocar o link aqui porque não quero dar IBOPE para um absurdo daqueles.

Lá no vídeo, ele mostra um vídeo sobre o infanticídio indígena, sobre o casamento homossexual etc... e diz que isto é "questão fechada" entre os parlamentares de determinado partido. A narração do vídeo é feita por uma moça com voz chorosa, pedindo a todos que cuidem da família brasileira, porque Deus pode vir e nos julgar.

Aí, fico aqui me perguntando...

Este pastor devia pensar também nas milhares, milhões de crianças que morreram de fome durante os governos que ocorreram nos 20 anos em que ele não se pronunciou. E nós que somos pais sabemos que a morte de um filho, ainda mais de fome, destrói uma família também.

Este pastor devia falar que ele foi negligente por 20 anos, porque uniões homossexuais acontecem desde há muito tempo e o infanticídio indígena acontece desde sempre, desde os tempos de Cabral. Devia pedir perdão! E não há como misturar os dois assuntos. Uma coisa é pais matarem seus filhos gêmeos. Outra é duas pessoas do mesmo sexo quererem partilhar a vida, plano de saúde e herança etc... Nada a ver uma coisa com a outra. Se o cara é contra as duas, então que não as coloque no mesmo nível.

Este pastor, se fosse mesmo imparcial, devia dizer aos seus fiéis que qualquer grupo político faria o mesmo que o PT fez para angariar votos de certos públicos.
Muito triste que um ministro do Evangelho suba ao púlpito para falar de política, com uma visão tão limitada e claramente tendenciosa.

Será que ele esqueceu (ou não sabe) que o grupo político do outro candidato é ligado ao pessoal do Consenso de Washington? Será que ele esqueceu (ou não sabe) o quão malévolo e diabólico é este grupo e seus objetivos de escravização e manipulação pela fome e pela ignorância?

Lamentável! Por causa de opiniões deste tipo é que nós, cristãos, somos mal vistos e tratados com discriminação em tantas ocasiões.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Proposta

Hoje, na ida para a faculdade, conversava com minha “passageira” Jaqueline sobre alguns casos de brasileiros que se deram bem, ou que fizeram algo de genial, fiquei pensando na razão pela qual nós – a dita elite intelectual da nação, pessoas bem nutridas, com acesso a farta informação e educação de relativa qualidade – não tomamos uma iniciativa diferente.

Há muito tempo, a mídia vem favorecendo os exemplos ridículos e, diria até, tristes de pseudo artistas que levam o povo a imitar seus comportamentos igualmente ridículos.

Nós mesmos usamos os meios de comunicação aos quais temos acesso para xingar e detonar com os Tiriricas da vida e nos esquecemos que esta atitude lhes dá exatamente o que querem: notoriedade. Negativa, mas notoriedade.

Assim, pensei em tirarmos o foco desta gente e criarmos uma campanha inovadora – ta bom, nem tão inovadora assim – que ponha em destaque pessoas cujos exemplos de vida façam os mais jovens desejarem ser algo de melhor.

Então, comecemos a tuitar links para matérias, vídeos, reportagens, blogs etc... que retratem brasileiros e brasileiras que sejam exemplo, que nos façam sentir orgulho de sermos parte deste povo irreverente, inventivo, criativo e alegre.

A idéia é mais ou menos assim: posto o link no twitter e, ao final, o tag #QUEROUMBRASILMELHOR.

Se a idéia vingar, pensem na influência positiva que teremos sobre esta meninada que precisa de exemplos em quem se espelhar, que não sejam bandas emo nem heróis que falem errado e façam dancinhas ridículas.

Na medida em que pessoas forem aderindo, peço ao pessoal que, mesmo que não tenha um link legal a postar, pelo menos retuíte o máximo possível os twits a que tenha acesso.

Quem sabe se a gente não consegue fazer alguma diferença, ainda que pequena?

Eu vou começar postando um caso bem interessante, do professor Miguel Nicolelis, BRASILEIRO, professor na Duke, nos EUA. O seu campo de trabalho é a neurociência e ele não é um daqueles brasileiros que foi para o exterior e esqueceu de suas origens: além da notoriedade mundial que tem seu trabalho, ele ainda lidera uma ação socio-educacional sem similar, no nordeste brasileiro.

O link, no meu twitter (@otaviocf). O tag: #QUEROUMBRASILMELHOR

domingo, 22 de agosto de 2010

Dez falsos motivos para não votar na Dilma




Por Jorge Furtado em 25 de julho de 2010

Tenho alguns amigos que não pretendem votar na Dilma, um ou outro até diz que vai votar no Serra. Espero que sigam sendo meus amigos. Política, como ensina André Comte-Sponville, supõe conflitos: “A política nos reúne nos opondo: ela nos opõe sobre a melhor maneira de nos reunir”.

Leio diariamente o noticiário político e ainda não encontrei bons argumentos para votar no Serra, uma candidatura que cada vez mais assume seu caráter conservador. Serra representa o grupo político que governou o Brasil antes do Lula, com desempenho, sob qualquer critério, muito inferior ao do governo petista, a comparação chega a ser enfadonha, vai lá para o pé da página, quem quiser que leia. (1)

Ouvi alguns argumentos razoáveis para votar em Marina, como incluir a sustentabilidade na agenda do desenvolvimento. Marina foi ministra do Lula por sete anos e parece ser uma boa pessoa, uma batalhadora das causas ambientalistas. Tem, no entanto (na minha opinião) o inconveniente de fazer parte de uma igreja bastante rígida, o que me faz temer sobre a capacidade que teria um eventual governo comandado por ela de avançar em questões fundamentais como os direitos dos homossexuais, a descriminalização do aborto ou as pesquisas envolvendo as células tronco.

Ouço e leio alguns argumentos para não votar em Dilma, argumentos que me parecem inconsistentes, distorcidos, precários ou simplesmente falsos. Passo a analisar os dez mais freqüentes.

1. “Alternância no poder é bom”.

Falso. O sentido da democracia não é a alternância no poder e sim a escolha, pela maioria, da melhor proposta de governo, levando-se em conta o conhecimento que o eleitor tem dos candidatos e seus grupo políticos, o que dizem pretender fazer e, principalmente, o que fizeram quando exerceram o poder. Ninguém pode defender seriamente a idéia de que seria boa a alternância entre a recessão e o desenvolvimento, entre o desemprego e a geração de empregos, entre o arrocho salarial e o aumento do poder aquisitivo da população, entre a distribuição e a concentração da riqueza. Se a alternância no poder fosse um valor em si não precisaria haver eleição e muito menos deveria haver a possibilidade de reeleição.

2. “Não há mais diferença entre direita e esquerda”.

Falso. Esquerda e direita são posições relativas, não absolutas. A esquerda é, desde a sua origem, a posição política que tem por objetivo a diminuição das desigualdades sociais, a distribuição da riqueza, a inserção social dos desfavorecidos. As conquistas necessárias para se atingir estes objetivos mudam com o tempo. Hoje, ser de esquerda significa defender o fortalecimento do estado como garantidor do bem-estar social, regulador do mercado, promotor do desenvolvimento e da distribuição de riqueza, tudo isso numa sociedade democrática com plena liberdade de expressão e ampla defesa das minorias. O complexo (e confuso) sistema político brasileiro exige que os vários partidos se reúnam em coligações que lhes garantam maioria parlamentar, sem a qual o país se torna ingovernável. A candidatura de Dilma tem o apoio de políticos que jamais poderiam ser chamados de “esquerdistas”, como Sarney, Collor ou Renan Calheiros, lideranças regionais que se abrigam principalmente no PMDB, partido de espectro ideológico muito amplo. José Serra tem o apoio majoritário da direita e da extrema-direita reunida no DEM (2), da “direita” do PMDB, além do PTB, PPS e outros pequenos partidos de direita: Roberto Jefferson, Jorge Bornhausen, ACM Netto, Orestes Quércia, Heráclito Fortes, Roberto Freire, Demóstenes Torres, Álvaro Dias, Arthur Virgílio, Agripino Maia, Joaquim Roriz, Marconi Pirilo, Ronaldo Caiado, Katia Abreu, André Pucinelli, são todos de direita e todos serristas, isso para não falar no folclórico Índio da Costa, vice de Serra. Comparado com Agripino Maia ou Jorge Bornhausen, José Sarney é Che Guevara.

3. “Dilma não é simpática”.

Argumento precário e totalmente subjetivo. Precário porque a simpatia não é, ou não deveria ser, um atributo fundamental para o bom governante. Subjetivo, porque o quesito “simpatia” depende totalmente do gosto do freguês. Na minha opinião, por exemplo, é difícil encontrar alguém na vida pública que seja mais antipático que José Serra, embora ele talvez tenha sido um bom governante de seu estado. Sua arrogância com quem lhe faz críticas, seu destempero e prepotência com jornalistas, especialmente com as mulheres, chega a ser revoltante.

4. “Dilma não tem experiência”.

Argumento inconsistente. Dilma foi secretária de estado, foi ministra de Minas e Energia e da Casa Civil, fez parte do conselho da Petrobras, gerenciou com eficiência os gigantescos investimentos do PAC, dos programas de habitação popular e eletrificação rural. Dilma tem muito mais experiência administrativa, por exemplo, do que tinha o Lula, que só tinha sido parlamentar, nunca tinha administrado um orçamento, e está fazendo um bom governo.

5. “Dilma foi terrorista”.

Argumento em parte falso, em parte distorcido. Falso, porque não há qualquer prova de que Dilma tenha tomado parte de ações “terroristas”. Distorcido, porque é fato que Dilma fez parte de grupos de resistência à ditadura militar, do que deve se orgulhar, e que este grupo praticou ações armadas, o que pode (ou não) ser condenável. José Serra também fez parte de um grupo de resistência à ditadura, a AP (Ação Popular), que também praticou ações armadas, das quais Serra não tomou parte. Muitos jovens que participaram de grupos de resistência à ditadura hoje participam da vida democrática como candidatos. Alguns, como Fernando Gabeira, participaram ativamente de seqüestros, assaltos a banco e ações armadas. A luta daqueles jovens, mesmo que por meios discutíveis, ajudou a restabelecer a democracia no país e deveria ser motivo de orgulho, não de vergonha.

6. “As coisas boas do governo petista começaram no governo tucano”.

Falso. Todo governo herda políticas e programas do governo anterior, políticas que pode manter, transformar, ampliar, reduzir ou encerrar. O governo FHC herdou do governo Itamar o real, o programa dos genéricos, o FAT, o programa de combate a AIDS. Teve o mérito de manter e aperfeiçoá-los, desenvolvê-los, ampliá-los. O governo Lula herdou do governo FHC, por exemplo, vários programas de assistência social. Teve o mérito de unificá-los e ampliá-los, criando o Bolsa Família. De qualquer maneira, os resultados do governo Lula são tão superiores aos do governo FHC que o debate “quem começou o quê” torna-se irrelevante.

7. “Serra vai moralizar a política”.

Argumento inconsistente. Nos oito anos de governo tucano-pefelista - no qual José Serra ocupou papel de destaque, sendo escolhido para suceder FHC - foram inúmeros os casos de corrupção, um deles no próprio Ministério da Saúde, comandado por Serra, o superfaturamento de ambulâncias investigado pela “Operação Sanguessuga”. Se considerarmos o volume de dinheiro público desviado para destinos nebulosos e paraísos fiscais nas privatizações e o auxílio luxuoso aos banqueiros falidos, o governo tucano talvez tenha sido o mais corrupto da história do país. Ao contrário do que aconteceu no governo Lula, a corrupção no governo FHC não foi investigada por nenhuma CPI, todas sepultadas pela maioria parlamentar da coligação PSDB-PFL. O procurador da república ficou conhecido com “engavetador da república”, tal a quantidade de investigações criminais que morreram em suas mãos. O esquema de financiamento eleitoral batizado de “mensalão” foi criado pelo presidente nacional do PSDB, senador Eduardo Azeredo, hoje réu em processo criminal. O governador José Roberto Arruda, do DEM, era o principal candidato ao posto de vice-presidente na chapa de Serra, até ser preso por corrupção no “mensalão do DEM”. Roberto Jefferson, réu confesso do mensalão petista, hoje apóia José Serra. Todos estes fatos, incontestáveis, não indicam que um eventual governo Serra poderia ser mais eficiente no combate à corrupção do que seria um governo Dilma, ao contrário.

8. “O PT apóia as FARC”.

Argumento falso. É fato que, no passado, as FARC ensaiaram uma tentativa de institucionalização e buscaram aproximação com o PT, então na oposição, e também com o governo brasileiro, através de contatos com o líder do governo tucano, Arthur Virgílio. Estes contatos foram rompidos com a radicalização da guerrilha na Colômbia e nunca foram retomados, a não ser nos delírios da imprensa de extrema-direita. A relação entre o governo brasileiro e os governos estabelecidos de vários países deve estar acima de divergências ideológicas, num princípio básico da diplomacia, o da auto-determinação dos povos. Não há notícias, por exemplo, de capitalistas brasileiros que defendam o rompimento das relações com a China, um dos nossos maiores parceiros comerciais, por se tratar de uma ditadura. Ou alguém acha que a China é um país democrático?

9. “O PT censura a imprensa”.

Argumento falso. Em seus oito anos de governo o presidente Lula enfrentou a oposição feroz e constante dos principais veículos da antiga imprensa. Esta oposição foi explicitada pela presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ) que declarou que seus filiados assumiram “a posição oposicionista (sic) deste país”. Não há registro de um único caso de censura à imprensa por parte do governo Lula. O que há, frequentemente, é a queixa dos órgãos de imprensa sobre tentativas da sociedade e do governo, a exemplo do que acontece em todos os países democráticos do mundo, de regulamentar a atividade da mídia.


10. “Os jornais, a televisão e as revistas falam muito mal da Dilma e muito bem do Serra”.

Isso é verdade. E mais um bom motivo para votar nela e não nele.

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(1) Alguns dados comparativos dos governos FHC e Lula.

Geração de empregos:
FHC/Serra = 780 mil x Lula/Dilma = 12 milhões

Salário mínimo:
FHC/Serra = 64 dólares x Lula/Dilma = 290 dólares

Mobilidade social (brasileiros que deixaram a linha da pobreza):
FHC/Serra = 2 milhões x Lula/Dilma = 27 milhões

Risco Brasil:
FHC/Serra = 2.700 pontos x Lula/Dilma = 200 pontos

Dólar:
FHC/Serra = R$ 3,00 x Lula/Dilma = R$ 1,78

Reservas cambiais:
FHC/Serra = menos 185 bilhões de dólares x Lula/Dilma = mais 239 bilhões de dólares

Relação crédito/PIB:
FHC/Serra = 14% x Lula/Dilma = 34%

Inflação:
FHC/Serra =12,5% (2002) x Lula/Dilma = 4,7% (2009)

Produção de automóveis:
FHC/Serra = queda de 20% x Lula/Dilma = aumento de 30%

Taxa de juros:
FHC/Serra = 27% x Lula/Dilma = 10,75%


(2) Elio Gaspari, na Folha de S.Paulo de 25.07.10:

José Serra começou sua campanha dizendo: "Não aceito o raciocínio do nós contra eles", e em apenas dois meses viu-se lançado pelo seu colega de chapa numa discussão em torno das ligações do PT com as Farc e o narcotráfico. Caso típico de rabo que abanou o cachorro. O destempero de Indio da Costa tem método. Se Tupã ajudar Serra a vencer a eleição, o DEM volta ao poder. Se prejudicar, ajudando Dilma Rousseff, o PSDB sairá da campanha com a identidade estilhaçada. Já o DEM, que entrou na disputa com o cocar do seu mensalão, sairá brandindo o tacape do conservadorismo feroz que renasceu em diversos países, sobretudo nos Estados Unidos.
Blog de Jorge Furtado

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

"Então! Dás maior importância para o exterior ou para o interior das pessoas?", perguntei-te.
"Ah! Tipo... Para o interior!", respondeste.
Rebati:"E em ti mesma? O que mais te gera cuidados? Teu interior ou teu exterior?"
Titubeaste:"Ah! Tipo... Com meu interior. Mas expresso o que sinto por dentro pelo modo como me manifesto por fora."
Entendi.
Fiz qualquer comentário sobre política, o mundo e alguma coisa de filosofia e pouco soubeste falar sobre elas em retorno.
Chamaram minha senha. Despedi-me e deixei-te ali sentada, esperando para seres atendida na fila do banco.