terça-feira, 8 de setembro de 2009

Portaria do Ministério da Saúde nº 1.707, de 19 agosto de 2008



Alguém já ouviu falar sobre a tal Portaria do Ministério da Saúde nº 1.707, de 19 agosto de 2008?
Funciona assim: o governo (via SUS) terá que pagar cirurgias de troca de sexo para transexuais. A justificativa(plausível, diga-se de passagem) é de que são pessoas que “nasceram com o sexo errado”. É o caso do homem que nasceu no corpo de uma mulher, ou vice-versa.
Beleza!
Agora, eu quero falar da minha condição: sou um magro em corpo de gordo!
Chega de ficar escondendo; resolvi sair do armário e confessar a minha condição, que muito me envergonha e me causa problemas e constrangimentos por onde quer que eu vá.
Os assentos do avião, as poltronas do cinema e teatro, cadeiras em restaurantes (que deveriam reverenciar os gordos) não são adequadas para nos caber. Tente fazer uma viagem transatlântica sentado numa poltrona da classe econômica; a sensação quando se chega ao destino é de “torresmificação” da pessoa humana obesa.
A família não me entende. Claro! Eles são todos gordos em corpos de gordos, diferentes de mim, que tenho a mente de um magro, mas vivo aprisionado a este corpo. À noite, sozinho, no meu quarto, eu coloco roupas de magro (camiseta apertada com os braços de fora, calça jeans,) e, ainda que temporariamente, aposento minhas indumentárias de gordo, tais como camisetas sem botões e (sempre!) com listras verticais, calças folgadas. Roupas brancas? Sendo gordo jamais posso usar, sob pena de parecer um refrigerador duplex caminhando pelas ruas.
Sempre me pergunto quando e qual será a próxima situação em que serei tratado como ponto de referência para alguém que está por perto (“Meu irmão é aquele guri de camiseta amarela, do lado daquele gordinho ali.”) e qual será o esporte que não poderei praticar – ou perderei feio se o fizer – por ser gordo.
Lembro agora de um evento ocorrido há um ano, quando resolvemos correr de kart em Brasília. Mesmo sendo bom motorista, fiquei em último colocado porque meu carrinho não conseguia retomar a velocidade – por causa do meu peso.
Diferentemente do que se pensa, não escolhi ser gordo; foi um evento contrário à minha vontade e totalmente incontrolável. Não fiquei gordo de um dia para o outro. Foi um quilinho hoje, uma arrobinha no ano que vem e, ao final, virei esta pessoa que não reconheço no espelho.
Fico esperando o dia em que algum parlamentar vai criar um projeto de lei a exemplo da Portaria do Ministério da Saúde nº 1.707, de 19 agosto de 2008, que ajude os magros em corpos de gordos a saírem desta condição de sofrimento.
Agora, com licença, eu preciso colocar a minha roupa de caminhada. Vou ficar olhando para aquela gente magra “mantendo a forma” e sonhando com a hora de chegar em casa e trocar de roupa.

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