sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Duas Estórias

Prometo que hoje não escrevo muito mais, além das duas estorinhas abaixo as deixo para que meus leitores (todos os quatro!) as deglutam. Aliás, falando em meus leitors, duvido quem é o blogueiro que pode colocar todos os seus leitores no carro e oferecer-lhes sorvete de graça!

O Vestido Azul
Certa vez, morava numa vila feia, feia, feia uma menina linda, linda, linda. Mas a menina linda, linda, linda vivia suja, suja, suja. Os pais a tratavam com desleixo porque todo mundo naquela vila tratava tudo com desleixo. Não havia nem a vontade, nem a iniciativa de ninguém de mudar aquela realidade porque eles simplesmente eram assim.

Aconteceu que veio um professor de uma cidade maior morar ali. Ficou atônito! Tamanha sujeira. Durante seus dias como professor da menina linda, linda, linda, ele observou que ela era uma criança graciosa (como todas são) e que tinha olhos lindos. Sabendo que não poderia levá-la para casa e pedir que sua esposa lhe desse um banho, resolveu comprar um lindo vestido azul e presentear-lhe.

Quando a menina chegou em casa, mostrou o vestido à mãe e esta ajudou-lhe a vesti-lo, a mãe notou que algo lhe faltava: um banho e pentear os cabelos ruivos. Ao sair do banho e se vestir, a senhora chegou a chorar de emoção por ver quão linda era sua filha e pensou quanto tempo ela passou naquele estado deplorável. Ficou com peso na consciência e foi arrumar a casa, que tinha que estar à altura de tão gracioso anjo.

O pai chegou em casa e quase não reconheceu a própria filha – e a própria casa, agora lindamente arrumadas. Decidiu fazer sua parte e foi limpar o pátio, cortar a grama, plantou algumas flores. Agora sim, aquela casa estava à altura da beleza da menina do vestido azul.

Os vizinhos viram que algo havia de diferente e, para não ficarem para trás, decidiram embelezar suas casas também. Alguns nem fizeram nada de especial; apenas tiraram o lixo de seu redor e caiaram suas cercas simples de madeira.

Logo, logo, pessoas de outras ruas começaram a observar que algo de interessante havia acontecido com aquela gente e resolveram repetir o feito. Em breve, as ruas da redondeza estavam muito mais bonitas e bem cuidadas.

Por fim, as pessoas perceberam que não poderiam permitir que o poder público continuasse tratando com desleixo suas ruas e casas, tão bem cuidadas por todos eles. Um novo prefeito foi eleito.

E tudo isto começou com um homem descontente com a situação, presenteando uma criança com um vestido azul...

O Velho Moribundo

Ele estava em seu leito de morte. Solitário, com frio e desiludido.
Seu melhor amigo veio lhe pagar uma visita que, ambos sabiam, poderia ser a última – e provavelmente seria.
- Amigo! Quê posso fazer para te consolar nesta hora tão difícil?
- Promete-me que escreverás o que eu te pedir na minha lápide!
- Claro! Como poderia negar-te tão simples pedido, homem?!
- Compra uma pedra grande e manda que se escreva nela em letras de bom tamanho, para que todos leiam:
Durante minha juventude, saí de casa para lutar por um mundo melhor. Anos se passaram e eu vi que o mundo era um lugar muito grande. Pensei, então, em mudar meu país, a pátria a que tanto amo. Mesmo em meu país eu não fui bem visto, nem ouvido. Voltei à minha cidade e daqui batalhei para mudar a realidade desta gente. Com todos estes anos de andanças, já velho, vi minha família em frangalhos e hoje, à beira da morte, me descubro velho, solitário e frustrado. Quisera eu ter sabido que, se tivesse eu mudado minha mente primeiro, conseguiria fazer diferença na minha família. Daqui, teria suporte para mudar minha vila, meu bairro, minha cidade. Depois, poderia ter mudado meu país e, com tamanha notoriedade, quem sabe, o mundo.

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